Nos últimos anos, a cirurgia bariátrica, popularmente conhecida como cirurgia de redução do estômago, tem se tornado uma opção bastante importante de tratamento devido o número crescente de indivíduos com obesidade mórbida, ou seja, com Índice de Massa Corporal (IMC) maior que 40.
Apesar de ser um método muito efetivo para o controle da obesidade, uma parte das pessoas que passam por esse tratamento obtém resultados apenas parciais, como perda de peso menor do que o esperado ou recuperação prematura do peso perdido.
Para considerarmos que o tratamento cirúrgico foi satisfatório, é necessário que o paciente, após 5 anos da operação, tenha perdido pelo menos metade do seu excesso de peso. Isso significa que, para uma pessoa de 100kg cujo peso adequado é 60kg, por exemplo, a perda satisfatória será de no mínimo 20kg. Vale lembrar que a maior velocidade de redução do peso corporal ocorre nos primeiros seis meses após a cirurgia, caindo gradualmente a partir daí.
Estudos recentes, onde os pacientes foram acompanhados por vários anos após terem sido operados, verificaram que aproximadamente 20% deles têm algum grau de ganho de peso após a cirurgia. Observou-se também que esse número é menor nos primeiros anos e aumenta quanto maior o tempo pós-operatório.
Um ligeiro ganho de peso após a cirurgia bariátrica nem sempre compromete a saúde e pode refletir apenas uma adaptação do organismo.
No entanto, recuperar 10% ou mais do peso mínimo que foi atingido é sinal de alerta. Para ter uma idéia do que isso significa, vamos retomar o exemplo anterior da pessoa com 100kg. Após perder os 20kg, atingindo 80kg, ela teria recuperado 8kg.
Nesses casos, e também quando a perda de peso não chega a ser satisfatória, o paciente deve avaliar as causas junto com a equipe multidisciplinar que o acompanha.
Entre os fatores que interferem na intensidade da perda de peso, estão algumas características do próprio organismo, como adaptações hormonais e no trato gastrointestinal que podem acontecer com o passar do tempo, reduzindo o efeito inibidor do apetite que tinha sido alcançado com a cirurgia.
Já foram investigados também certos comportamentos que favorecem a recuperação do peso após a cirurgia. São eles:
– padrão alimentar do tipo “beliscador”: ato de beliscar porções pequenas, que não promovem aquela sensação de “empachamento” característica da compulsão, prejudica a percepção do limite alimentar;
– manter um estilo de vida sedentário;
– cultivar expectativa de resultado rápido;
– não fazer o acompanhamento profissional corretamente no pós-operatório;
– perda de peso insatisfatória nos primeiros meses após o procedimento;
– fatores fisiológicos, como adaptações hormonais e no trato gastrointestinal que podem acontecer com o passar do tempo, reduzindo o efeito inibidor do apetite que tinha sido alcançado com a cirurgia.
O acompanhamento no pós-operatório não se resume a verificar a evolução do peso!
A partir do terceiro mês após a operação, a maioria dos pacientes já tem condições de se alimentar normalmente, respeitando a necessidade de mastigar muito bem os alimentos e de limitar o volume consumido em cada refeição.
Mesmo após a cirurgia existe a necessidade de acompanhamento e tratamento específico com equipe multidisciplinar.
Costumamos esquecer que a obesidade é uma doença crônica, de caráter progressivo, que pode ser controlada por diversos métodos (como o cirúrgico, do qual estamos falando), mas que não tem cura.
A Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM) e o Ministério da Saúde são taxativos ao recomendar que a cirurgia deve ser realizada dentro de um programa de tratamento com atendimento multidisciplinar (médicos, psicólogo, nutricionista entre outros).
A etapa pré-cirúrgica é fundamental para a preparação do paciente, levando em consideração os aspectos clínicos, nutricionais, psicológicos e promovendo um estilo de vida mais ativo.
A fase posterior ao procedimento exige um cuidado especial para prevenir complicações tanto cirúrgicas quanto nutricionais que podem ocorrer devido ao reduzido aporte calórico e à limitação na absorção de nutrientes.
As carências nutricionais mais comuns após a cirurgia bariátrica são das vitaminas A, D, B6, B12 e ácido fólico e dos minerais ferro e zinco.
Os sintomas dessas deficiências costumam ser inespecíficos e os sinais aparecem apenas quando já estão avançadas. Por essa razão, o paciente deve procurar seguir com bastante disciplina as recomendações alimentares pós-cirúrgicas e os níveis de vitaminas e minerais no organismo devem ser monitorados.
O médico, em geral um endocrinologista, realiza uma avaliação ampla da saúde e de sintomas comuns no pós-operatório, como fraqueza e queda de cabelo, alterações do funcionamento intestinal (constipação ou diarreia), vômitos, desidratação, síndrome de dumping (intolerância a alimentos com média a alta concentração de açúcares), intolerâncias alimentares (como carnes, por exemplo), entre outros. Ele solicitará exames específicos, avaliando a necessidade de prescrição de medicamentos e/ou suplementos e de encaminhamento para outras especialidades, como cardiologista.
Com relação à alimentação, a partir do terceiro mês após a operação, a maioria dos pacientes já tem condições de se alimentar normalmente, respeitando a necessidade de mastigar muito bem os alimentos e de limitar o volume consumido em cada refeição. As orientações nutricionais visam auxiliar o paciente a manter bons hábitos alimentares, substituindo alimentos para os quais houver intolerância, realizando os ajustes necessários para suprir e prevenir carências nutricionais, sinalizando ao médico os nutrientes para os quais a ingestão está insuficiente, que avaliará se convém a suplementação.
As consultas médicas e nutricionais são realizadas em geral semanalmente no primeiro mês pós-cirúrgico, mensalmente até completar o primeiro ano após o procedimento e a cada três meses no segundo ano, podendo passar a ser semestrais a partir daí.
A freqüência do acompanhamento no segundo ano após a cirurgia será maior ou menor, dependendo do grau de adesão apresentado pelo paciente às recomendações alimentares e de atividade física, e do grau de melhoria ou controle alcançado no tratamento das doenças associadas ao excesso de peso, como hipertensão e diabetes.
O acompanhamento psicológico após a cirurgia é um fator de grande importância no apoio às mudanças de comportamento necessárias e para lidar com as expectativas e as mudanças corporais.
A cirurgia bariátrica no Brasil
Segundo a Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM), o volume de cirurgias realizadas no país em 2012 atingiu o marco de 72 mil operações.
O bypass gástrico (figura ao lado) é a técnica bariátrica mais praticada no Brasil, devido a sua segurança e, principalmente, sua eficácia. Esse procedimento leva à redução do peso corporal pela combinação de duas estratégias: o grampeamento de parte do estômago, que reduz o espaço para o alimento, e um desvio da porção inicial do intestino, que influencia na liberação de certos hormônios responsáveis pelo sinal de saciedade, reduzindo a fome. Além do emagrecimento, a cirurgia tem impacto positivo no controle do diabetes e outras doenças, como a hipertensão arterial e apneia obstrutiva do sono.
Fonte: www.scielo.br/pdf/ramb/v57n1/v57n1a25.pdf